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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Paciência não se perde..

"Pela paciência possuireis as vossas almas." 
E' muito  comum ouvirmos  esta  exclamação: perdi  a paciência! Como  sabem, porém, que perderam  a  paciência?  Porque  quando  precisaram  daquela  virtude  para  se  manterem  calmos  e serenos não a encontraram consigo, e, por isso, exasperaram-se, praticaram desatinos, proferiram impropérios e blasfêmias? 
Só  pelo  fato de não encontrarem em  seu patrimônio moral  aquela virtude, alegam  logo que a perderam. Como poderiam, porém, perder o que não possuíam?
Será melhor que os homens se convençam de que eles não têm paciência, que ainda não alcançaram essa preciosa qualidade que, no dizer do Mestre insigne, é a que nos assegura a posse de nós mesmos: Pela paciência possuireis as vossas almas. E não pode haver maior conquista que a conquista própria.
Já alguém disse, com justeza, que o homem que se conquistou a si mesmo vale mais que aquele que conquistou um reino. Os reinos são usurpados mediante o esforço e o sangue alheio, enquanto que a posse de si mesmo só pode advir do esforço pessoal, da porfia enérgica e perseverante da individualidade própria, agindo sobre si mesma. 
Todos  esses,  pois,  que  vivem  constantemente  alegando  que  perderam  a  paciência,  confessam involuntariamente que  jamais a tiveram. Paciência não se perde como qualquer objeto de uso ou como  uma  soma  de  dinheiro.  Os  que  ainda  não  lograram  alcançá-la,  revelam  essa  falha precisamente no momento em que se exasperam, em que  perdem  a compustura e cometem despautérios. Quando, depois, o ânimo serena, o homem diz: perdi a paciência. Não perdeu coisa alguma; não tenho paciência é o que lhe compete reconhecer e confessar. 
Ás virtudes, esta ou aquela, fazem parte de uma certa riqueza cujo valor imperecível Jesus encarece sobremaneira em seu Evangelho, sob estas sugestivas palavras: Granjeai aquela riqueza que o ladrão não rouba, a traça não rói, o tempo não consome e a morte não arrebata. Tais bens  são,  por  sua  natureza,,  inacessíveis  às  contingências  da  temporalidade,  e  não  podem, portanto, desaparecer em hipótese alguma. Constituem propriedade inalienável e legitimamente adquirida pelo Espírito, que jamais a perderá.
Não é fácil adquirirmos certas virtudes, entre as quais se acha a paciência. A aquisição da paciência  depende  da  aquisição  de  outras  virtudes  que  lhe  são  correlatas,  que  se  acham entrelaçadas  com  ela  numa  trama  perfeita.  A  paciência —  podemos  dizer  —  é  filha  da humi ldade e irmã da fortaleza, do valor moral.
O orgulho é o seu grande inimigo. A fraqueza de Espírito é outro obstáculo à conquista daquele precioso tesouro.  Todos os movimentos intempestivos,  todo ato violento, toda atitude colérica são oriundos da suscetibilidade do nosso amor próprio exagerado.   A seu  turno, os desesperos, as aflições incontidas, os estados de alucinação, os impropérios e blasfêmias são conseqüências de fraqueza de ânimo ou debilidade
moral. 
A calma e a serenidade de ânimo, em  todas as emergências e conjunturas difíceis da vida,  só  podem  ser  conservadas mediante  a  fortaleza  e  a  humildade  de  Espírito. E' essa condição  inalterável de ânimo que se denomina paciência. Ela é incontestavelmente atestado eloqüente de alto padrão moral.
Naturalmente, em épocas de calmaria, quando tudo corre ao sabor dos nossos desejos, parece que possuímos aquele preciosíssimo bem. Os homens, quando dormem, são todos bons e inocentes. E' exatamente nas horas aflitivas, nos dias de amargura, quando suportamos o batismo de fogo, que verificamos, então, a inexistência da sublime virtude conosco.
No mundo, observou o Mestre,  tereis  tribulações, mas  tende bom ânimo: eu  venci o mundo. Como ele venceu, cumpre a nós outros, como discípulos, imitá-lo, vencendo também. Cristo é o sublime modelo, é o grande paradigma. Não basta conhecer seus ensinamentos, é preciso praticálos. Daqui a necessidade de fortificarmos nosso Espírito, retemperando-o nos embates cotidianos como o ferreiro que, na forja, tempera o aço até que o torna maleável e resistente.
A  existência  humana  é  urdida  de  vicissitudes  e  de  imprevistos.  Tais  são  as  condições  que havemos de suportar como conseqüências do nosso passado. A cada dia a sua aflição — reza o Evangelho  em  sua  empolgante  sabedoria.  Portanto,  cumpre  nos  tornemos  fortes  para vencermos. Fomos  dotados  dos  predicados para  isso. Tudo que eu  faço, asseverou o Mestre, vós também podeis fazer. 
Se nos é dado realizar os feitos maravilhosos do Cristo de Deus, porque permanecemos  neste estado  de miserabilidade moral? 
Simplesmente  porque  temos  descurado  a obra de nossa educação. A educação do Espírito é o problema universal.
A obra da salvação é obra de educação, nunca será demais afirmar esta tese.
A religião que o momento atual da Humanidade reclama é aquela que apela para a educação sob todos os aspectos: educação física, educação intelectual, educação cívica, educação mental, educação moral.
A fé que há-de salvar o mundo é aquela que resulta desta sentença: 
Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito.

Em Torno do Mestre - Pedro de Camargo (Vinícius)

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